Dona Glória: A TV é a alegria e o dissabor para os brasileiros

À medida que realiza os seus afazeres domésticos na cozinha, Dona Glória assiste à sua TV. Ela gosta de ver noticiários para estar sempre informada: “Quem fica parada no tempo, apodrece”, acredita.

Ela também gosta de outros programas, principalmente o que chama de “programações sadias”, como: temas católicos, documentários no estilo do programa Planeta Terra – que mostram lugares desconhecidos – e programas de comédia.

Para ela, a televisão atual é: “a alegria e o dissabor para os lares brasileiros”. Isso porque, segundo ela, embora ofereça uma “boa” programação, também oferece uma programação “ruim”, principalmente em se tratando de novelas.

Dona Glória diz que, em determinadas abordagens, as novelas influenciam negativamente as crianças: “O que a gente está mostrando para as crianças? Você ensina à criança que ela tem que ter respeito pelo ser humano, mas o que as novelas mostram?” questiona. Ela cita como exemplo as relações familiares mostradas na novela Avenida Brasil. “Ninguém respeita o pai, nem a mãe, aquelas ofensas danadas, tanto palavrão, cenas de sexo. É certo isso?”, questiona.

Mesmo assim, admite ver novelas, atribuindo o fato às opções limitadas de programas à noite. “Então você assiste, começa a se envolver e quer ver o fim da história”, explica. Na oportunidade, lembrou-se da época em que acompanhava novelas no rádio e imaginava as cenas sem que fossem abordadas temáticas relacionadas a sexo.

Dona Glória, que acompanhou o início da televisão no Brasil, relembra do humor inocente dos programas Família Trapo e Luta Livre.; e restaura de suas memórias a figura do televizinho: “Aquele vizinho com poder aquisitivo maior comprava uma televisão e a gente ia na casa dele assistir a programação”, conta. Ela compartilha o sentimento que teve ao assistir TV pela primeira vez: “Eu achei lindo demais e pensava que as pessoas estavam ali dentro”, conta.

Perguntada sobre o seu aparelho de televisão, dona Glória responde: “Você quer falar se é plasma? Não é não! Ela tem um tubo para trás”, explica ela.

Sobre a TV digital, Dona Glória conta que ouviu falar no assunto pela TV: “Eu sei que é diferente, a imagem é mais nítida, cabe em qualquer lugar. A outra não! Tem que ficar quase dois metros fora da parede (risos) com o tubão pra trás”.

Ela ouviu falar em interatividade da TV digital e outros “avanços” da tecnologia no telejornal SPTV, da Rede Globo, através do jornalista César Tralli. Quando entramos na questão da interatividade na TV, ela disse que não confia na
ferramenta t-banking: “Vocês lembram quando começou a tecnologia do computador? Todo mundo dizia que era uma coisa garantida, que ninguém ia ter acesso à senha de ninguém, e como é que existe esse tal de hacks (sic)? Será que esse negócio da televisão vai ser tão seguro?”, questiona. Ela teme que a televisão se transforme em uma forma de invasão de
privacidade: “Quando você menos esperar, você não estará falando com a televisão, mas com alguém que está dentro da sua própria casa”, observa.

Entrevista: Intermídia Cidadã (Fundação Tide Setubal)

Trecho extraído deFEITOSA, Deisy Fernanda. A televisão na era da convergência digital das mídias. Uma reflexão sobre a comunicação comunitária [tese]. São Paulo: , Escola de Comunicações e Artes; 2015 [citado 2018-07-25]. doi:10.11606/T.27.2015.tde-24112015-101553.)

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